sábado, 10 de maio de 2008

Vila da Saudade

A casinha de madeira dorme fria na madrugada silenciosa. Por aqui não passam carroças, cavalos ou qualquer tipo de viv'alma. Tudo é muito quieto, e irrequieto vou percorrendo cada centímetro do jardim que circunda a pequena habitação.
Os grilos parecem nunca dormir, os sapos sempre dão a sensação de estarem próximos demais. Noto uma pequena placa na entrada: "Vila da Saudade". Empurro a porta vagarosamente, silenciosamente, cuidadosamente, e minha mente pensa céu e suspira terra.
Encontro na sala um sofá de veludo azul-marinho. Ao seu lado, fotos de pessoas que não consigo identificar. Tudo está muito silencioso.
De repente ouço o suave tilintar de um sino, quase imperceptível. A televisão tem uma longa antena de metal em seu topo, a mesa de jantar está posta: a canja de galinha está quente, consigo sentir a fumaça de longe.
Um vento frio invade meu ser: a janela está aberta. Dirijo-me ao resto da casa, observo cada detalhe minuciosamente. Tenho certeza de que já estive aqui. Minha mente não permite que me lembre em que momento pisei nestas tábuas de madeira tão velhas e desgastadas pelo tempo. Mas sinto uma presença maior neste recinto. Sei que não posso garantir terras ou valores altos, mas deixo meu sentimento como prova de minha veracidade: sinto que já estive aqui.
Saio da casa em direção a estradinha de terra. O céu está cheio de pequenos pontos brancos. A lua está lindíssima revestida de branco. Não há ninguém nesta terra tão arrogantemente silenciosa. Sinto falta de vozes e passos, de canções e sorrisos. Apenas tenho em todo meu ser uma falta irreprimível, inesgotável e maltrapilha, que toma conta de meu corpo e me faz chorar.
Decido procurar a saída, já é hora de partir. Devo ir embora, deixem-me ir!

O despertador toca: são seis horas da manhã.
- Que sonho estranho, que dor no peito.

Eram saudades. Às seis horas da manhã meu coração doía de saudades. Já não era capaz de ignorar o sentimento, a injeção de realidade: onde está você, que não ocupa o lado direito de nossa cama? Onde está a tevê, o sofá azul que embalavam suas horas de sono?
O que foi feito de nós? Por onde andamos? Onde estamos?

Porque está tudo tão silencioso?

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