Meu hoje dói demais. Dói demais a sua ausência nesse quarto escuro, uma cama mal forrada feita para dois. Dói demais os porta-retratos sorrindo em minha direção, o vidro empoeirado denunciando a desatenção. Hoje dói demais a palavra dita em cartas e telefonemas, dói demais a sua letra garrancho que escreve a palavra amor numa missiva antiga. Dói a aliança no fundo da gaveta, abandonada por entre contas a pagar e contas já vencidas.
Dói o seu paletó esquecido no armário, a sua meia preta por entre minhas roupas íntimas. Dói o sabonete esquecido, dói o que já havia doido e que ainda não sarou.
Dói tudo aquilo que não consigo esquecer.
Dói saber que depois de todo esse tempo, eu ainda arranjo um momento, para sentir saudades de você.
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