sábado, 2 de fevereiro de 2013

Pecado prateado

sou sobrinha da tia
filha do pai
irmã do irmão
alguém que se vai
vizinha do lado
prima de grau
parente do enteado
uma grande bossal

sou parte da solução
e o fator problema
cérebro ou coração
esse é o dilema
mas paro toda essa lógica
e o silogismo sem sal
porque te olho sorrindo
e não encontro algo igual

sou filha da mãe
te quero por inteiro ao meu lado
mesmo não podendo
mesmo sendo errado

sou minha, sozinha
esquece o anel prateado
tire também o seu
vamos viver no pecado...


Pra pensar

está doendo
mas não por dentro
estou morrendo
mas não por fora

Um conto

Nem mais um pio dessa música
que vem do fundo da memória
nem mais um gesto no espelho
que lembre a nossa história
joguei no lixo o calendário
esqueci nosso aniversário
calei minha voz macia
deitei na cama vazia
rimei amor e dor
joguei fora nosso cobertor
fitei o telefone
nem lembro mais seu nome
incendiei a agenda de contatos
quebrei o porta-retratos
desabafei com uma amiga
bebi, vomitei, arranjei briga
fui a pé pros bares
desmaiei em quase todos os lugares
me senti um animal
ocupei leito de hospital
e depois de tudo isso
como se não bastasse seu sumiço
ficou assim
me perdi
de
mim.


sábado, 1 de dezembro de 2012

O plano

Aonde há, há de ser
nem que pra isso a gente tenha que crescer
se virar no tempo, avançar por entre os anos
virar do avesso e esquecer quase todos os nossos planos
já diz o ditado o que o ditado não disse
mil fitas vermelhas e a mesma mesmice
o que o tempo não ensina, eu aprendo na marra
e depois esqueço tudo numa noite de farra
olhos verdes, azuis, castanhos e cegos
um jantar para dois numa mesa composta de egos
cara, caro, um acordo da poesia
fortemente rompido na primeira hora do dia
nossas fitas coloridas, vermelho e azul ciano
vem comigo e calma, que eu tenho um plano
uma tragédia grega em terras tupiniquins
águas do Nilo, campos, prados e afins
a história épica fora da Literatura
Maratona
luta
solidão, apenas
e tudo se encerra
bravamente
na derrota de Atenas.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Fidel

quatro patinhas encobertas por um suave pelo branco e liso
esparramadas pelo chão num desenho vertiginoso e ilógico
apenas quatro aninhos e a barba de um vovô idoso
olhinhos pequenos e negros contrastam seu rosto alvo
o focinho molhado de vez em quando esfria minha pele
passa um pesado avião por cima de nós
- vuuuuuuuushhhhhhhhhhhh
nada lhe acorda, nem a buzina do ônibus, nem o digitar do teclado
inerte, você dorme profundamente, sonhando com algo que jamais poderei adivinhar
talvez um sonho em preto em branco, sobre nada, ou sobre tudo
só sei que parece estar em paz - como eu muitas vezes não sei estar.
Pouso minha mão sobre sua barriguinha quente,
faço um carinho, faço dois, e quando vejo, já me perdi em lhe acariciar
escorrego minha mão pelo seu frágil corpo, da cabeça ao rabo
tudo em você é tão pequenino, Fidel
menos o coração que você carrega no peito.
Lá, há espaço para perdoar todas as vezes em que saio sem lhe avisar quando volto
quando saio estabanada pela casa e não lhe vejo pelo caminho
quando tenho que lhe dar banho - ah, me desculpe, Fidelzinho!
quando não tenho tempo de lhe levar ao parque, ou para dar uma volta no quarteirão
quando não lhe acho em meio aos lençóis brancos
quando fico irritada com seus latidos, amedrontados, em resposta aos trovões
quando lhe deixo só por tanto tempo...
e seu perdão é fiel, Fidel. E inexorável.
Eu sei que você não viverá para sempre. Mas eu também não.
Nossos relógios de vida estão escondidos n'algum lugar
- talvez o meu no céu das pessoas, e o seu no céu dos cachorros -
e lá eles sabem quanto tempo mais nós temos.
Abraço-lhe forte agora, você abre o olho direito e lambe minha mão
fica olhando para mim como se procurasse a minha cura.
E eu fico aqui pensando, amargurada,
como jamais na vida recebi demonstração de amor mais pura.



sábado, 10 de novembro de 2012

Sds

toca o telefone
eu juro que é seu nome
não
é só um engano
eu faço mais um plano
o próximo que ligar
será
você.

toca o telefone
dessa vez tem que ser você
me chamando pra sair
pra gente se divertir
sem hora pra voltar
e no dia seguinte
a gente mal se lembrar
mas a ligação veio errado
era pro vizinho
aqui
do lado.

e tocou mais uma vez
eu jurei por D'us, eu jurei
que se fosse você
eu virava santa ou pastora
mas não
era ligação
da operadora.

a bateria do celular acabou
e acho que a minha
vai ficando por aqui
nem toda energia
de uma hidrelétrica
recarrega 
alguns corações
acho que vou nessa
abraços
e saudações.

Pra sempre

me tira o sono e a razão
prevejo a encrenca que vem
pintada em seus olhos
já vi esse filme
em outro cinema
já fiz um poema
pra alguém parecido
não dorme comigo
mas sabe me amar
mas se dorme, escondido
capaz de me afogar
me dá um perdido
perdida estou
não sei o que faço
não sei pr'onde vou
me diz que horas são
que eu perdi o jeito
cadê a mocinha
que se dava o respeito?
me diz que horas são
pra saber se você me convida
ou se eu fico aqui,
pra sempre,
autora escondida


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Autores escondidos

Vou me machucar
mas não tem problema
se disso tudo
sair um poema
um resto de mim
ficar mais feliz
por um segundo
ou por um triz
faço a escolha
sem perceber
que o dia inteiro
só penso em te ver
durante as 4 estações
entre a lua e seu traslado
que o dia me permita
passar a noite ao seu lado
só mais um carinho
e um gole de cerveja
só mais um copo
e assim você me beija
me tirando de mim
me trazendo pro infinito
me errando, me iludindo
e tudo fica mais bonito
estamos juntos e não estamos
vamos jogar este jogo
você e eu, escondidos
sem água pro nosso fogo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Se foi

Assaz a vida
E o que ela faz
Caminha tortuosa
E muda a cada esquina
Desnuda um mistério
Capaz de me surpreender
Mas estou madura
ou não
e você é louco
ou são
mas não me atiça
em vão
que eu te pego
pela mão
a gente faz amor
no chão
me mima,  me ensina
uma canção.
No dia seguinte
só diz que não tem problema
e meu sonho é obrigado
a morrer neste poema.

Absoluto

Sensível como o primeiro raio de Sol da manhã,
como a primeira brisa gelada do outuno.
Eu choro como um dia cinza claro
sem motivos, só pela infinita beleza que existe no triste exercício de chorar.
Esparramo minhas lágrimas por aí
engulo calada a agonia de sentir o mundo
sofro o que ninguém vê atrás de meus olhos
me desfolho em mil papéis amassados pelo chão
cubro minha cabeça de louros, num suave penteado,
e durmo profundamente só na jaula de leões

sábado, 23 de junho de 2012

Nas entrelinhas

Às vezes me dá uma tristeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeedoreeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeesolidãoeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeedepressãoeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeelágrimaseeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeefriezaeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeesilêncioeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeedúvidaseeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeapertoeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeevocêeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeza.

Sutil

Eu
eu sou o micróbio da calçada
a gota de orvalho da árvore mais feia
que ninguém viu cair
eu sou a peça extra do quebra-cabeça
o sapato menor que o pé
o casaco que não esquenta
o bispo apostólico sem fé
eu sou a chuva dos desabrigados
o poste de luz queimado
o pulmão dos afogados
o breu do salão de festas
o bandido que não morreu
sou eu
e você
você era minha metade
quem prestava real atenção
quem me deu a mão
o chão
o coração
e tudo o que era eu, se foi
e tudo que comecei a ser, era você
e nesse embalo eu fui, rodopiando, sem pausa
mas você, que dúvida... não faz parte da dança
a música está parando
desligaram as luzes
voltou a fazer frio
e aquele amor, aquele desejo
foi pra p......



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bastardo

Comecei a escrever sobre coisas bobas e desimportantes
Meus poemas andam meio sem rima
Acho que estou perdendo o jeito
Como cozinheira que envelhece e queima o arroz no fogão
Estou decepcionando a mim mesma
E o que mais faz sofrer é isso:
Estar consciente de que me vou um pouco mais a cada dia
Sem ter qualquer certeza ou garantia
Fica aqui só mais um poema qualquer
É fraco e pobre, não tem jeito
No entanto é meu e é verdadeiro
E por isso, e somente isso, eu o aceito.

sábado, 2 de junho de 2012

Não me chame de novo de baby

Não me chame de novo de baby
você está me dando ânsia e dor de cabeça
não me procure mais e vamos acabando por aqui
para evitar sofrimento no futuro, é melhor assim.
Não quero mais ouvir sua voz entrecortada
ou assistir à escuridão de seus olhos
não - eu prefiro que tudo isso seja um sonho
prefiro acordar amanhã e recomeçar sem você
como se eu nunca tivesse lhe conhecido.

Não me chame de novo de baby
my love, sweety, honey, whatever,
because I won't answer you anymore...
Let's forget we were "together".

Em paz

Vou me arrancando em pequenos pedaços
um pouco de pele aqui, menos cabelos
cada parte de mim desanexada deste corpo gélido e incapaz
cada parte que me vai, sem que eu perceba,
me leva um pouco do seu corpo, que estava em mim
e quanto mais me assassino e me mato
mais você também morre, sem saber, no entanto,
que eu te corto de mim, te raspo do meu ser
e a morte que nos leva, separados, embora ao mesmo tempo,
me traz uma paz que antes eu não adivinhava saber.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Vai...

Faz assim, ó
vê se me erra
porque você só faz besteira, mesmo
quem sabe assim
você me encontra.

Whatsondú

Se você veio me visitar
seja bem-vindo
por aqui as coisas vão bem
os textos continuam capengas
mas eu estou bem melhor
acho que é isso que importa...
Me diga suas novidades
há quanto tempo não nos falamos...
Lembra aquela sua promessa
pois então, esquece ela, vai
já foi o tempo disso, e um dia ele já foi nosso,
dá pra acreditar?
Faz tudo parte de uma lembrança boa
eu não falo isso à toa
e se falasse, como seria?
Ganhei um presente, que é meu passado.
Meu querido,
quem diria!

Tecno

um pássaro cantando em minha janela
um céu azul maravilhoso
não... são apenas meus headphones
tocando uma música de Veloso

Sem tempo

o tempo para o orgasmo e para o poema
cinco minutos, apenas...
dilema
e eu acabo indo dormir...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mambembe

minha poesia é pobre
pois apenas me retrata
tudo o que aqui não escrevo
cedo ou tarde me mata