domingo, 17 de fevereiro de 2008

Como um domingo qualquer

Deitou-se na cama, de bruços, sentiu o lençol gelado encostar em seu corpo quente. Segurou o travesseiro com ambas as mãos, arremesou-o em cima de sua cabeça, fechou os olhos e tentou não escutar a gritaria.
Desejou não acordar mais. Desejou sofrer de alguma coisa para que lhe dessem atenção.
Pressionou o travesseiro cada vez mais forte contra sua cabeça. Mal conseguia respirar. Mas não importava, ela queria não ouvir mais nada.
- Tá doendo.
O coração pulava como se quisesse fugir de toda aquela confusão. Porque eles não param de brigar?
- Eu queria sumir!
Era impossível que ainda estivessem berrando. Arriscou sair do travesseiro e ouviu:
- É assim!!! Como...
Isto foi o bastante para submergí-la em pensamentos.
- Droga, essa noite não vai passar nunca.
Talvez fosse bipolar ou problemática mesmo. Numa hora era mil alegrias, sorriso estampado no rosto, piadas e céu azul. Na outra, tudo era triste e cinza. Que vida desgraçada.
- Que saco de mundo!
Segurou a respiração, arriscou ficar assim por dez segundos. Doze, quinze, vinte, vinte e cinco. Já chega. Colocou o nariz fora do travesseiro. O ar estava gelado.
- Será que já parou?
Havia parado.
Mas somente por enquanto.
Logo estaria debaixo dos travesseiros cantarolando uma música qualquer - imaginária, indescritível, uma qualquer - para não ouvir os berros vindos do quarto.

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