segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O último pôr-do-sol

- Lembra quando nós ficavamos na rede da varanda, deitados juntos, vendo o sol que caia lentamente do outro lado?
- Lembro sim.
- E iluminava seus olhos, e te deixava quase cega!
- Parece que foi ontem que você me pediu em casamento. E que tivemos nossos lindos filhos.
- E quando o Afonsinho saia para passear de noite e você não conseguia dormir, mulher? Não pregava os olhos nem um minuto sequer!
- Mas não minta, você também não conseguia dormir.
- Ah, eu virava de lado e descansava. Mas também só dormia mesmo quando ouvia a maçaneta girar. Isso lá pras três horas da manhã. Aí sim eu dormia.
- E a Luísa, quando completou 15 anos... Tão mocinha!
- Agora todos eles tem família, né mulher? Uma família bem grande e abençoada, uma pra cada um!
- Pois é. Grande e abençoada, assim como a nossa.

* * * * * * * * * * * * * * * *
- Você acha que está chegando?
- Acho que sim, estou sentindo. Está na hora do pôr-do-sol.
- Me dá um beijo escondido, assim como faziamos quando sua mãe não nos deixava namorar.
- Por mim, ficava a vida inteira abraçada ao seu lado.
- Eu ficava até a eternidade, minha mulher. Até a eternidade.


O último suspiro selou a viagem das duas almas até o céu.

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