terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A menina e a Vida Seca

Era uma vez uma menina muito rica, filha de um Rei muito corajoso, e de uma Rainha muito bela. Possuia todos à seu dispor e tudo quanto queria era lhe fornecido sem nenhuma contestação.

Um dia, a menina acordou com desejo de ler Graciliano Ramos.
- De onde ela tirou isso? - ponderou o Rei.
- Deve ser febre... - analisou a Rainha.
- São desejos da alma! - gritou o Conselheiro real.

Procuraram pela biblioteca do reino e acharam apenas um livro de Graciliano: "Vidas Secas".

Deram-no prontamente à menina, que encontrava-se deitada em sua cama real, vestida com seu robe real, no seu travesseiro real, no seu colchão real.
As portas fecharam-se e ela analisou o livro. Não sabia porque queria lê-lo, mas sabia que precisava. A vontade era incontrolável, era impossível aguardar mais um instante.

A menina passou dois dias no quarto sem falar com ninguém. Estava completamente reclusa, quieta, concentrada.

No terceiro dia, o alvoroço do Reino era grande.
- E se minha filha estiver passando mal? - agonizou o Rei.
- E se ela precisar de carinho? - pensou a Rainha.
- E se precisar de conselhos? - protestou o Conselheiro real.

Decidiram arrombar sua porta.
Encontraram-na agachada, embaixo do armário.
Baleia estava de frente para ela, com olhar penoso.
A família de Fabiano fugira pela varanda.
O papagaio - que papagaio? - era somente uma lembrança.


Contraíra da única personagem humanizada a doença.
Morreu - junto com ela - de hidrofobia, no escuro.

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