quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A pomba do Terminal Urbano

Percorro o Terminal Urbano como de costume.
A cidade cinza abriga meu cansaço
Mas não pergunta nada. Somente sopra um ar gelado
De profundo desespero e fumaça negra.
Vou descendo a calçada até o ônibus azul
(A única cor no pálido Terminal Urbano).
Sinto um cheiro forte vindo em direção a mim.
Eis que vejo, esfacelada, uma pomba na rua.
Cinza ou marrom, não sei sua cor.
Apenas percebo sua cabeça amassada
O sangue colorindo a calçada
E o cheiro forte da morte que navega no ar.
Três penas brancas fazem companhia a seu corpo falecido
Estirado na rua numa manhã de quinta-feira.
Suas outras companheiras esqueceram-na.
Perseguem migalhas de pão e sujeira na calçada.
A morte sem disfarces daquela pequena ave
Incomoda meu estômago. Sangue. Restos de matéria orgânica espalhados pela rua.
A pomba morta não me sai da lembrança. Tão parecida comigo.
Tão livre e morta. Esfacelada na calçada, eu sou a pomba morta.
Nem vergonha, nem pudor. Quis voar, e o ônibus, corriqueiro, me matou.
- Voa, pomba. Vai longe, livre, para algum lugar que nunca pude estar.

Nenhum comentário: