quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Jazzmine

A luz azul ilumina o palco do bar. Centenas de madeiras desgastadas. Por entre copos e cigarros queimando, Ray Charles tira a noite para dançar.
Uma música – just an old sweet song – e ela com seu Kent aceso na mão.
A fumaça contorna seus cabelos curtos e negros.
Olhos azuis como um gole de Curaçau Blue.
Vermelho-bordô nos lábios carnudos.
Pernas cruzadas dentro do vestido negro de cetim.
Seios apertados no corpete envernizado.
Os sapatos altos acomodam os pés de quem já andou por todo canto.
A cena da mulher sem dono – sem sono – numa madrugada vagabunda de Los Angeles.
Chama o garçom.
- What time is it?
O garçom enfeitiça-se com os lábios daquela mulher. Hesita. Olhos no bar.
- Two fifteen, mam.
A mulher cutuca o cigarro no cinzeiro. Aquele era o sétimo, e ele ainda não havia chegado.
Observa a porta. Abre e fecha. Cruza e descruza as pernas. A cadeira vazia a seu lado denuncia a espera.
Abre a bolsa, procura por dinheiro. Joga 20 dólares amassados em cima da mesa.
Um último trago,uma última dose. Levanta rapidamente.
O garçom, de relance, percebe seu corpo delineado pelo vestido preto.
O salto faz barulho ao caminhar. A madeira é velha, e a situação também.
Observa os que jogam poker na mesa em frente à porta. Roda a maçaneta de vitral multicolor.
Lá fora, os esperados sete graus. Acende outro. Somente o cigarro esquenta seu corpo.
Caminha rumo a sua casa.
E nunca mais ela voltaria àquele bar.

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